segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

[Des]construções

Dias atrás estava eu, atravessando a Av. Dona Ana Costa. E vocês sabem, Santos é uma cidade rica em construções históricas, maravilhosas e - grande parte das vezes - malcuidadas.

   Na Av. Ana Costa tinha uma casa. Uma dessas antigas, maravilhosa, mas completamente abandonada. Eu achava aquela casa linda. Nesse dia, ao passar por lá, vi o portão e nada mais do que um pequeno amontoado do que sobrou do entulho recolhido dentro do terreno. Nada da casa. Meu coração ficou pequeno. Quem é doido em arquitetura, sabe bem como é isso. Todas as vezes que passava por lá, olhava na esperança de alguém comprar e restaurar. Ou de ser tombada, sei lá. Mas era algo que na minha cabeça seria inevitável. Não poderia ser diferente: uma reconstrução para algo tão incrível.

   Mas não foi o que aconteceu. Ela simplesmente tinha sido demolida.

   E sabe, é assim na vida. A gente vive tendo esperanças em reconstruir coisas que foram - e talvez ainda sejam - lindas, mas que uma hora tem que ir. Recusamo-nos a assumir que essa hora chegou.

   Quantas relações nós mantemos na mesma situação que aquela casa? Que marcou grandes momentos, fez história, mas já estava desgastada, sem estrutura, sem condições de receber mais ventanias e temporais nas suas telhas frágeis?

   Nós normalmente preferimos fechar os olhos do que sair desse comodismo e entender que temos de demolir o que foi construído para dar lugar a algo novo. Nós temos medo de assumir essa condição. De deixar ir.

   Um microfisioterapeuta uma vez me disse: "Nós sofremos e criamos feridas emocionais porque somos muito territorialistas. Não queremos abrir mão do que nós nos acostumamos a ter."

   Ele tem razão. Nós não queremos abrir mão daquilo que às vezes demorou pra chegar, demorou pra acontecer. Mas sobretudo, nós nos acostumamos a ter uma relação, mas não entendemos que temos as relações, não temos as pessoas. E por isso caímos nesse apego além-do-afeto, nesse apego-de-posse que mais cedo ou mais tarde nos impede de seguir um caminho nosso e de olhar para dentro. E olhar para dentro é ver que deixar algo já falido para trás, ainda que doa, é deixar prevalecer que o amor de fato continue, mas renovado, com outra frequência.

   Talvez, lá naquele terreno, surja algo novo genial. Talvez essa nova construção abrigue sonhos maiores, diferente daquela casa já vazia e sem condições de abrigar o mais inanimado dos objetos.

   Talvez deixar ir e construir algo novo te permita abrigar uma realidade muito mais feliz e seja a continuação do seu caminho rumo à sua própria descoberta e felicidade.

   Deixe ir e permita-se uma nova construção.

Por que a gente é assim?

Sigo tentando entender o amor.
Não o amor em si, mas todo esse lance de relacionamento e envolvimento, entende?
Talvez eu tente ainda entender porque bem, vai ver eu não sei lidar com isso. Vai ver é porque ainda me culpo muito por sentir. Será que muita gente é assim? Assim, sabe... Você fica com alguém, mas se gostar, não demonstra muito isso afetivamente. Vai que eu viro a doida que fica em cima? Vai que a pessoa acha ruim?

"Eu não ligo pro que os outros vão pensar. Sou só eu mesmo".

O cacete!

Se você fosse você mesmo, você ligaria, daria cara a tapa, faria mil elogios pr'aquela guria ou guri que você curtiu demais, de início, mas o envolvimento que você teria em uma semana sendo realmente você mesmo, você acaba conseguindo em, sei lá, dois meses. Ou nem consegue. Desiste por medo. Ninguém fala nada. Vida que segue. Outro cara, outra mina. Outro lance sem compromisso mas até conhecer alguém bacana de novo você martela o tempo todo na cabeça: "que bosta, por quê isso tá acontecendo?"

E por que será que a gente é assim?
Sabe toda aquela história de 'eu gosto de gente que demonstra, que sente e fala, que não faz a cultura do desinteresse'? Já parou pra pensar que pode ser só medo? Ou sei lá... Talvez a outra pessoa não queira nada mesmo. Vai querer pagar pra ver se não? Ninguém quer.
Isso pode ser uma prudência exagerada, ou um cuidado para a não-romantização-das-coisas porque afinal, sempre há a linha tênue entre as coisas serem incríveis ou ficarem tão desconfortáveis a ponto de toda coisa agradável transformar-se em impossível. E aí vira tudo um grande rebosteio em meio as possibilidades.

Vamos fazer o quê, afinal? A gente não quer parecer estranho. Nem estragar nada - mesmo porque se estraga alguma coisa é porque a pessoa é meio babaca, mas a gente não entende isso.
Nós, tão apegados a expectativas que nascem diretamente da cabeça sem prévia autorização, começamos a ter qualquer simples contato com alguém realmente legal apenas respirando por aparelhos, quase que com ataques de asma - se desesperando por não ter uma bombinha por perto, algo para parar e entender o que está acontecendo.
Tudo isso pelo ridículo fato de S E N T I R. De ser afetado pelo afeto. Tudo isso por apenas ser gente. E como eu disse, eu não to falando de amor não. Só de gostar. De, sei lá.... Vocês devem ter entendido. A gente só não compreende mesmo como aprender a mudar isso. Como que faz?