quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Cotidiano de um ativista cansado


    Até quanto vale a informação? Hoje ela chega, hoje se espalha, discorre-se sobre ela na internet, no bairro, no grupo, no trabalho, na mesa de bar. Amanhã ainda é assunto, surge luta, surge o ativismo, a indignação e até as piadas. E depois? Depois não mais. Próximo.
   O inocente foi baleado. Até onde vai a indignação? Hoje ela chega, se espalha, discorre-se sobre ela na internet, no bairro, na mesa de bar. Amanhã é assunto, vira luta, vira ativismo e busca. Vira piada também. E depois? Depois já era. Esquece-se da luta, desfaz-se da piadinha que é agora velha. A luta esquecida, foi esquecida antes de resolver? Ninguém sabe responder.
   Até vir o próximo assunto, a próxima notícia, informação. Não veio? Que tédio! Que raro. Volta lá no inocente baleado, volta lá na primeira informação. Retomam-se as piadas, retoma-se a luta. Resolveu? Não. A luta nunca acaba, o inocente é morto todo dia, todo dia uma nova introdução. O final? A gente já sabe. Piadas refeitas, ativismos pela metade. Resolvemos um ou outro problema da nossa nação. Estamos Longe. Retoma o fôlego, acorda, mas não levanta, vê o feed aí rapidão. Surgiu uma luta nova, curte o post, sai pra rua, conquista e desconquista, desista! Não adianta mais não.
   Fica a piada, fica o assunto, se esvai a multidão. Senta no sofá, pega o controle, assiste televisão. Faz só a piada, dá menos trabalho, lutar é cansativo mesmo que surja sempre um novo motivo.  Surgiu nova notícia, e já diria 5 a Seco:  amanhã ela vai figurar  nas páginas das redes sociais, em mil reprises nos telejornas, impressa em um flyer que você recebe num bar ou na pilha de e-mails a encaminhar. Mas depois – amanhã – nunca mais.