sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Princípios?


   Debruçava sobre seus joelhos e lamentava a morte. Ninguém morrera. Algumas coisas ele estava vendo morrer aos poucos. Quando ouvia alguém falar sobre compreensão, já sentia a língua amarga do desgosto em saber que falavam daquilo sem nunca praticar. Sabia que lamentar não iria mudar o caminho desses fatos, mas também sabia que a tristeza e o desgosto não eram fáceis de descartar. Não era algo que podia-se simplesmente ignorar.

   Compaixão. Não sabiam o que era isso, mas se achavam no direito de receber. Assim como a justiça, pela qual queriam estar rodeados, e, ao mesmo tempo, recusavam-se a serem justos.
O homem ainda sentia o desgosto amargando sua língua. Se perguntava em como tudo estava se transformando em mera desimportância. Virou-se diante deles, maioria esmagadora. Percebeu que seria fácil ser um deles. Pouco afeto, e quem se importaria com uma discórdia? Afinal, desses, quase nenhum se importava com o que estava à sua direita, ou com o que estava à sua esquerda.

   Já havia concluído há tempos: tudo, com raras exceções, fazia parte de um individualismo duro.
Seria fácil fazer parte dessa maioria, mas não haveria mérito algum no final, pois aprendera que não há mérito no individualismo. Há de ser por alguém, e terá conquistas. Há de ser apenas por si próprio, e terá apenas solidão. Viu-se sozinho no mundo fora dos individualistas. Mas não era por si próprio. Era por eles, e decidiu ser por eles, mas não se transformara em um deles. Não era seu objetivo, embora fosse fácil se tornar um. Mas aquele homem almejava conquistas. E sabia que não seria fácil. Haveria um preço a pagar por ser diferente. Haveria um preço a pagar por praticar o que achava certo. Haveria um preço pela compaixão, pela justiça, pela compreensão e por todas as outras coisas que o mundo esqueceu para dar lugar ao individualismo.    
 
   Decidiu que pagaria um preço para mantê-los vivos, e não abaixaria mais sua cabeça sobre seus joelhos para vê-los morrendo. Vestiu-se de complacência, cobriu-se com a armadura que era composta por todas as coisas que acreditava, e foi à luta.