Ele era um jeito
de se impor. Tão forte, tão resistente. E, no entanto, sempre caminhava de
volta. Eu não queria ao menos a sua ida. Tão dolorosa, tão despedida. Uma coisa
enigmática que me descaracterizava e me puxava pra baixo, me fazendo ver cada vez
menor a felicidade que eu queria pra mim. A felicidade que eu sabia que era pra
mim. Era assim.
Ele vinha vez ou
outra como quem não queria nada, desprendido e decidido a seguir sua vida, como
se não me quisesse mais, como se tivesse aprendido a viver sem mim, em paz.
Como se só estivesse falando comigo porque, incrivelmente, não havia nada
melhor pra fazer. Eu já me desesperei tantas vezes, e eu queria tanto me deitar
no chão, segurar no seu calcanhar e pedir, por favor, “não vai não”. Eu o amava
tanto, que toda insegurança era pouca – embora não fosse do meu interesse
demonstrar – e toda demonstração de amor era insuficiente para senti-lo só meu
em qualquer lugar. Meio infantil, eu sei. Mas era mais complicado do que
parecia. E aí, ele foi embora de novo, já não me pertencia. Não queria mais
nada novamente, tão seguro de si, tão determinado e decidido a não voltar. E eu
pensei: perdi. Desperdicei a última chance d’ele me amar.
E aí, outra vez,
ele voltou. Dessa vez voltou tão bem, tão querendo tudo, tão comigo, tão junto.
Um tempo firme, bom e o mais seguro que eu senti. E de última hora me disse que
iria ferrar tudo de novo, que não iria agüentar, e que tinha medo de enfrentar.
E ele o fez. Ferrou tudo de uma vez, mas não pela raiz, agiu como se fosse
fugir, mas eu sei que continuou aqui. Vem vez ou outra como quem não quer nada,
me testa, me xinga, me destrata. Me põe pra ver até onde eu agüento uma
provocação, me diz não, esperando que eu vá implorar mais ternura. Me tortura, e se tortura, porque sabe que não
foi embora, sabe que não importa onde os seus pés vão, aqui sempre fica o seu
coração. E eu, que era insegura, espero o tempo certo, até vê-lo de perto, e
enfrentarmos o futuro incerto, antes que morramos sem viver o que mais
esperamos, antes que a vida passe como um borrão e o pôr-do-sol não veja nosso
entrelaçar de mãos.